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A uberização da Psicologia e os vínculos rasos do nosso tempo

  • Foto do escritor: Patrícia Azevedo
    Patrícia Azevedo
  • 22 de abr.
  • 1 min de leitura

Uma reflexão sobre como o avanço das plataformas de atendimento psicológico empacota o cuidado como serviço rápido, fragiliza vínculos e empobrece o processo terapêutico.


A uberização é um fenômeno que designa a precarização do trabalho a partir de plataformas digitais que intermediam o contato entre prestadores de serviço e consumidores. Popularizado com o crescimento de aplicativos como o Uber, esse modelo se sustenta sobre a promessa de agilidade e praticidade, mas às custas da desvalorização da mão de obra, da perda de direitos trabalhistas e do enfraquecimento das relações de trabalho.


Esse processo atravessou fronteiras e chegou à psicologia. Crescem, em número e influência, as plataformas que oferecem atendimento psicológico como se fossem cardápios de delivery emocional. Elas mediam o contato entre psicólogo e paciente, padronizam valores baixíssimos por sessão e ficam com boa parte do que é pago. Os psicólogos, pressionados pela demanda e pela visibilidade, se submetem a essas condições, tentando garantir algum sustento e visibilidade.


Com isso, o trabalho clínico se esvazia. A terapia, que é feita de vínculo, escuta e presença, passa a ser mais um serviço prestado com hora marcada, preço fixo e nenhuma possibilidade de negociação direta. O vínculo terapêutico, essencial para qualquer transformação subjetiva, se fragiliza. E esse empobrecimento do processo terapêutico se conecta com os vínculos rasos e imediatistas que já predominam em nossa sociedade.


Plataformas que anunciam “psicólogos 24h” reforçam a ideia de que saúde mental é uma mercadoria como outra qualquer — descartável, trocável, automatizável. Nessa lógica, tanto o sofrimento quanto o cuidado deixam de ter densidade. E, pouco a pouco, vamos nos acostumando com essa precariedade afetiva travestida de inovação.

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