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O quarto papel no Triângulo Dramático: o papel do Omisso

  • Foto do escritor: Patrícia Azevedo
    Patrícia Azevedo
  • 17 de mar. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de abr. de 2023

A importância de sair da cadeira de espectador e agir em situações de necessidade para evitar o comportamento Omisso.

Bystander foi o termo em inglês usado por Petruska Clarkson (1987), uma importante Analista Transacional, para definir o quarto papel que pode ser ocupado no Triângulo Dramático de Karpman. A tradução do termo para o português é espectador. Contudo, no contexto da Análise Transacional e dos Jogos Psicológicos, a tradução mais adequada para o termo é Omisso. Na leitura do artigo The Bystander Role (ver referências), em alguns cenários o significado da palavra refere-se à primeira tradução e, em outros, à segunda. Outra palavra para Bystander é Audience, que quer dizer, plateia. O termo Audience pode ser descrito também como "a looker on", que, por sua vez, pode ser traduzido também como espectador.


Todo esse jogo de palavras e traduções é importante para oferecer diversas perspectivas sobre o conceito a ser trabalhado e deixar evidente que, em Jogos de Omissão, fica caracterizada a presença de pessoas que observam como espectadores, como plateia e que esses podem ser Omissos na situação. Mas, de fato, o que significa isso?


Um espectador é alguém que se encontra diante de uma determinada situação. É importante destacar que ser espectador não significa ser necessariamente omisso, já que a ação ou a falta dela são decisões conscientes ou inconscientes que serão tomadas após a pessoa assumir o papel de espectador.


A pessoa omissa é aquela que não se envolve ativamente em uma situação em que outra precisa de ajuda. Em contrapartida, qualquer pessoa que se envolva em uma situação crítica, seja por Script ou por Autonomia, não é omissa.


Ao participar de uma situação como espectador, é possível identificar cinco etapas:

  1. Perceber que algo está acontecendo;

  2. Interpretar a situação como uma na qual ajuda é necessária;

  3. Assumir responsabilidade;

  4. Escolher uma forma de ajudar;

  5. Ajudar.


É possível observar uma correspondência significativa entre as etapas no processo de participação e a matriz de desqualificação de Schiff (1975):

  1. Desqualificar a existência do problema;

  2. Desqualificar o significado do problema;

  3. Desqualificar o potencial de solução do problema;

  4. Desqualificar a própria habilidade de lidar com ou resolver o problema.


Considerando ambas matrizes, algumas perguntas podem ser feitas ao terapeuta e ao cliente, com o objetivo de compreender ou elucidar o papel deles enquanto espectadores:


1. Estou ciente do que está acontecendo no meu meio?

2. Ajuda é necessária?

3. É minha responsabilidade?

  • Assumir responsabilidade pessoal significa dar conta do fato existencial de que o sujeito está pessoalmente envolvido em uma situação e é capaz de influenciá-la.

4. Quais são as possibilidades viáveis de ação para mudar esse cenário?

  • Assumir responsabilidade não deveria depender do sucesso dos esforços em ajudar. Responsabilidade pessoal significa um comprometimento com o que é certo, independente de se obter resultados desejados no curto prazo.

5. Que ações estou tomando?


Triângulo Dramático de Karpman: o quarto papel não descoberto


Karpman (2010) propôs o uso de um triângulo, chamado Triângulo Dramático, para representar e descrever três papéis que podem ser assumidos em relações disfuncionais: Perseguidor, Salvador e Vítima. Cada um desses papéis manifesta uma forma de desqualificar aspectos de si mesmo, de outros ou da situação. No entanto, Clarkson (1987) apontou que a teoria de Karpman não leva em conta o fato de que quase todo drama tem uma plateia que é afetada pela cena e, por sua vez, afeta profundamente o que está acontecendo. A plateia tem responsabilidade existencial de aplaudir, editar, influenciar ou se retirar do teatro, encerrando o show.


O quarto papel a ser ocupado no Triângulo Dramático seria então o Omisso, que também envolve desqualificação e, por meio da passividade, perpetua atos ofensivos. Quando Clarkson (1987) descreveu esse papel, utilizou o termo "phoney drama role", o qual não possui um significado claro ou definido em português. "Phoney" pode significar algo falso ou enganoso, enquanto "drama role" pode ser traduzido como papel dramático. Juntos, esses termos podem se referir a um papel ou personagem que é falso ou que não é genuíno dentro de um contexto dramático.


A omissão baseia-se na negação da obrigação e responsabilidade com outros, principalmente em situações de violência ou injustiça. Por isso, o comportamento de omissão inconsciente ou inquestionável interfere no funcionamento pleno e integrado do Estado de Ego Adulto.


Omissos às vezes escolhem assumir a responsabilidade de tomar decisões que protejam sua própria vida e liberdade. Ao assumir essa responsabilidade, surge a oportunidade de agir de boa ou má fé e isso pode resultar em um sentimento de culpa, sobre o qual Clarkson (1987) descreve três tipos.


O primeiro é o disfarce de culpa, uma característica exploratória e repetitiva, em que a pessoa sente culpa, mas não faz nada para resolver o problema que a causa. Também não procura se reparar. É como se fosse uma culpa por si só. Os disfarces de culpa envolvem a mensagem de que alguém deveria fazer algo (por exemplo, perdoar a pessoa por não fazer nada, entender que não é culpa dela, etc.).


O segundo é a culpa genuína, que pode surgir de uma agressão real ou omissão em relação a outra pessoa. Socialmente, a culpa é introduzida para ensinar as crianças a distinguir entre o certo e o errado e corrigir comportamentos impulsivos antes que se tornem adultos funcionais. Na terapia, a culpa genuína pode ser trabalhada por meio de ações reparadoras, sejam elas reais ou simbólicas.


Por fim, há a culpa existencial, que corresponde ao que Berne chamou de phatos no Adulto. Pode ser descrita como a consciência pessoal e profunda do sofrimento dos outros, ao mesmo tempo em que se decide usar os próprios recursos de forma diferente. Isso pode significar celebrar as oportunidades com alegria e gratidão, sem rebaixar os outros ou a nós mesmos com falsos protestos de culpa, que são reciclados pelo seu valor social sem afetar o comportamento futuro. Para isso, é necessário assumir responsabilidades genuínas sem culpar outros, como o governo ou Deus. Esse tipo de culpa gera sentimentos de humildade e responsabilidade verdadeiras.


A proposta de Clarkson (1987) em definir esse papel é um marco importante na definição do que é realmente a Análise Transacional (AT), para além dos conceitos teóricos: a AT é um exemplo importante de uma psicologia humanista que exige, por seus pressupostos, o envolvimento ativo em aliviar a situação dos menos afortunados, bem como em cuidar do bem-estar dos clientes.


Referências


Clarkson, P. (1987). The Bystander Role. Transactional Analysis Journal, 17(3), 82–87. https://doi.org/10.1177/036215378701700305

Karpman, S., Opções, in: Prêmios Eric Berne. 4. ed. Porto Alegre: UNAT, 2010.

Schiff,J.L.,withSchiff,A.W.,Mellor,K.Schiff,E.,Schiff, S., Richman, D., Fishman, J., Wolz, J., Fishman,C.&Momb,D. (1975).Cathexis reader: Transactionalanalysistreatmentofpsychosis. New York:HarperandRow.

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