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Estados de Ego: conceitos úteis da análise estrutural de 2ª ordem

  • Foto do escritor: Patrícia Azevedo
    Patrícia Azevedo
  • 20 de mar. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 13 de jun. de 2023

Uma lista útil para compreensão dos Estados de Ego na análise estrutural de 2ª ordem e como ela se vincula à estrutura do Script.

Os Estados de Ego consistem em um padrão consistente de sentimentos e experiências diretamente relacionados a um padrão correspondente e consistente de comportamento. Ao observá-los, o terapeuta trabalhará em duas frentes de análise: funcional e estrutural. A Análise Estrutural subdivide-se em duas: de 1ª Ordem e de 2ª Ordem, a qual é o objeto de estudo deste post.


A estrutura de 1ª Ordem diz respeito aos Estados de Ego do indivíduo adulto, referidos como P2, A2 e C2.

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Estados de Ego - Análise Estrutural de 1ª Ordem

A estrutura de 2ª ordem representa os Estados de Ego que existem dentro dos Estados de Ego Pai e Criança do indivíduo adulto, ou seja, o Estados de Ego dos pais e de outras figuras de autoridade com as quais a pessoa lidou enquanto crescia (P3, A3 e C3) e são internalizados no Estado de Ego Pai (P2), e os Estados de Ego desenvolvidos na infância entre o nascimento e aproximadamente 6 anos de idade que são baseados em intuição e sentimento (P1, A1 e C1) e residem na Criança (C2) da pessoa no presente.

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Estados de Ego - Análise Estrutural de 2ª Ordem

Para facilitar a compreensão, cabe detalhar um pouco mais cada Estado de Ego representado na estrutura:

  • P3: O Estado de Ego parental dos pais e outras figuras de autoridade com as quais a pessoa lidou durante o crescimento.

  • A3: O Estado de Ego Adulto dos pais e outras figuras de autoridade com as quais a pessoa lidou durante o crescimento.

  • C3: O Estado de Ego Criança dos pais e outras figuras de autoridade com as quais se lidou com o crescimento.

  • P2: O Estado de Ego Pai do adulto com base no funcionamento lógico que nutre e estabelece limites apropriados no lado positivo, mas pode nutrir e criticar demais no lado negativo (focado principalmente em julgamentos de valor).

  • A2: O Estado de Ego Adulto do adulto baseado no funcionamento lógico que pode auxiliar na tomada de decisões ao estimar probabilidades (focado na realidade).

  • C2: O Estado de Ego Criança do adulto com base na experiência presente (focado nos sentimentos, desejos e necessidades do aqui e agora).

  • P1: O Estado de Ego Pai que se desenvolveu entre as idades de 3 e 6 anos que se baseia no pensamento mágico e opera com intuição e sentimento (muitas vezes referido como o ''Pai Mágico'').

  • A1: O Estado de Ego Adulto que se desenvolveu entre 18 meses e 3 anos de vida da pessoa com base na intuição e sentimento, o qual é engenhoso e criativo (muitas vezes referido como o ''Pequeno Professor'').

  • C1: O Estado de Ego Criança que existe desde a concepção, que é a parte original da personalidade entre o nascimento e 6 meses de vida e consiste em uma estrutura inata com a qual a criança nasce, referida como P0, A0 e C0, a qual opera com instinto (muitas vezes referido como ''Bebê'').

    • P0: O Estado de Ego dos pais operante principalmente da concepção até 6 meses de vida do bebê e que funciona na programação instintiva de como atender às necessidades.

    • A0: O Estado de Ego Adulto opera principalmente desde a concepção até os 6 meses de vida e funciona na resolução instintiva de problemas.

    • C0: O Estado de Ego infantil opera principalmente desde a concepção até os 6 meses de vida e funciona nas preferências instintivas.


* No diagrama utilizado para ilustrar a análise estrutural de 2ª ordem deste post, as estruturas de P0, A0 e C0 não foram representadas, porém existem e localizaram-se visualmente dentro de C1.


Alguns autores da Análise Transacional afirmam que os Estados de Ego são formados a partir de uma rede neural de respostas associadas. A maior parte dessa rede está na Criança, em segundo no Adulto e menor parte no Pai. Por isso, é mais fácil (gasta-se menos energia) ficar na Criança, gasta-se um pouco mais de energia para estar no Adulto e ainda mais no Pai.


Além disso, eles propuseram a hipótese que as redes neurais são interconectadas; para cada mensagem parental, existem fantasias relacionadas e maneiras específicas de pensar sobre isso no Adulto, além de sentimentos e decisões específicas na Criança. Ou seja, por mais que socialmente uma pessoa possa parecer estar em um Estado de Ego, toda a rede neural que a compõe estará ativada.


Assim, para cada mensagem recebida por P3:

  • Há informações adicionais recebidas em A3 sobre o que é importante;

  • Há informações implícitas em C3 sobre o significado da mensagem;

  • A2 também processa informações observando o que acontece às pessoas se seguirem ou não aquela mensagem;

  • Há uma fantasia em P1 sobre o que vai acontecer caso a mensagem seja ou não obedecida, fantasia esta que envolve aniquilação ou abandono;

  • A fantasia de P1 é o que torna a mensagem mais poderosa que a de P3, pois a mensagem de P1 é interpretada em A1 como uma questão de vida e morte;

  • Quando P1 compartilha a fantasia com C1, a resposta é medo, raiva ou tristeza;

  • A1 precisa descobrir um jeito de atender P2 e cuidar das necessidades de C1 ao mesmo tempo --> é disso que se tratam as decisões precoces;

  • A1 descobre um jeito de cuidar das duas coisas: atender P2 e gerir as necessidades de C1;

  • Todas essas conexões neurais se ativam quando um estímulo está presente;

  • A decisão precoce, em geral, resulta em luta, fuga ou congelamento, respostas observadas em traumas quando a amígdala é ativada.


* A análise estrutural de 2ª ordem permite fazer observações importantes acerca do funcionamento dos Estados de Ego. Uma delas é que um Pai Crítico controlador (P2), em geral, está sendo comandado por uma Criança assustada.


Em um exemplo prático, temos o menino Jeder, um garoto de oito anos, que vai passear com sua mãe na casa de amigas dela. Antes de sair, ela dá a seguinte recomendação para ele: "Seja um bom garoto!". A mensagem é recebida em P3. Em uma estrutura dirigida pelo Script de Vida, a mensagem recebida em P3 será avaliada por A3 da seguinte forma: ser um bom garoto determinará como as pessoas se sentirão em relação a você, logo, seja um bom garoto para que gostem de você. A Criança do Pai (C3) avalia as mensagens implícitas a partir da prescrição de P3: seja um bom garoto é diferente de ser você mesmo, logo, não seja você. Uma outra mensagem implícita interpretada por C3 diz respeito a como a mãe gostaria de ser bem vista pelas amigas, por ser mãe de um bom garoto, gerando uma outra prescrição: "faça com que eu pareça boa" que reforça o "não seja você".


O A2 também processa as informações vindas de P3 e conclui que pessoas que são boas são queridas e pessoas que não são, não são queridas.


Diante disso, P1 elabora fantasias acerca do que vai acontecer com Jeder se ele não for um bom garoto. Ele passa a acreditar que se não for bom, as pessoas não irão gostar dele e ele será abandonado. Essa fantasia desperta medo e confusão em C1, uma vez que o garoto não quer não ser ele mesmo, mas não quer ser abandonado. Assim, A1 fica encarregado de descobrir como atender P2 e gerir o medo de C1, decidindo ser bom enquanto a mamãe está olhando e fazer o que quiser quando ela não estiver.


A seguir, é apresentado o diagrama da estrutura do Script descrita acima e sua contrapartida, que seria o funcionamento de uma estrutura autônoma:

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Exemplo Jeder - Estrutura do Script x Estrutura Autônoma

As unidades relacionais (estruturas de 2ª ordem dos Estados de Ego) têm um valor de sobrevivência original. O terapeuta pode ajudar seu cliente a compreender esse valor, em vez dele se julgar negativamente pela maneira como elas se formaram. Assim, a pessoa pode mudar de uma posição não-OK para uma OK e melhorar muito em seu processo.


Referências:


Joines, V. S. (2016). Understanding Second-Order Structure and Functioning. Transactional Analysis Journal, 46(1), 39–49. https://doi.org/10.1177/0362153715616651

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