Três pedaços de pizza e uma taça de vinho
- Patrícia Azevedo
- 7 de mar.
- 2 min de leitura
Texto baseado em eventos completamente imaginários, pelo menos da parte de Larissa.
Qual é o preço da lealdade? No caso daquela amizade específica, parecia custar três pedaços de pizza e uma taça de vinho. Rita só podia torcer para que fosse o melhor vinho já produzido e a pizza mais inesquecível da história — assim, ao menos, a traição teria sido um banquete digno...
Aquele grupo de amigas era sólido, pelo menos da parte de Rita. Embora no ano anterior tivessem se encontrado pouco, algum senso de unidade existia. Afinal, elas tinham até uma tatuagem compartilhada, símbolo da amizade. Era um pacto de irmandade selado na pele, pelo menos da parte de Rita.
A vida adulta impunha encontros espaçados, mas a conexão deveria, no mínimo, resistir às ausências. Porque carinho não depende necessariamente de encontros para existir; é um substantivo abstrato, sustentado exclusivamente por outro ser. E ele existia entre elas, pelo menos da parte da Rita.
Das seis amigas, Rita e Larissa encontravam-se com mais frequência. Parceiras de treino, confidentes de pensamento intrusivo, trocavam ideia como quem troca de roupa. Havia intimidade, liberdade e, ao que tudo indicava, lealdade. Até códigos secretos para se comunicarem tinham, como se fossem personagens de um livro de espionagem. Era uma relação forte, pelo menos da parte de Rita.
Larissa também era próxima de uma sétima pessoa, que nunca fizera parte do grupo, mas orbitava ao redor. Um dia, essa sétima quis reunir as seis amigas em sua casa para uma noite de vinhos e pizzas, com um detalhe: cinco delas foram convidadas. Uma não.
Rita soube do evento ao longo da semana que o antecedeu. Soube. O que é bem diferente de ser convidada. E passou os dias conferindo a tela do celular, esperando ao menos um "Oi" — um mísero, singelo, inofensivo "Oi". Nada.
Talvez Larissa tenha presumido que Rita não poderia ir, já que ela tinha um compromisso inadiável, previamente conhecido por Larissa. No fim, a reunião aconteceu, mas não com todas as seis: além de Rita, que sequer foi convidada, outras três amigas tinham compromissos marcados e também não compareceram. Ainda assim, o encontro seguiu, agora com a presença da sétima pessoa, reorganizando discretamente a configuração do grupo.
Rita se enfureceu e depois se entristeceu profundamente. Tentou analisar os fatos de maneira racional. Talvez estivesse exagerando? Talvez fosse apenas uma sequência de mal-entendidos? Mas, pelo menos da parte de Rita, amizade era um pacto silencioso de lealdade. E lealdade não era uma questão de quem podia estar presente, mas de quem fazia questão de reconhecer que você existia.
A vida sempre tem um jeito de ensinar lições aos seus passageiros e, pelo menos da parte de Rita, houve um grande aprendizado: lealdade tem preço e a cotação pode despencar sem aviso. No caso, valia três pedaços de pizza e uma taça de vinho. E, honestamente, nem devia ser um vinho tão bom assim. Provavelmente um rótulo duvidoso, comprado na pressa, harmonizado com a traição e um leve toque de cara de pau. Se ao menos fosse um Brunello di Montalcino...
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